Glauber Rocha
Se cultura é o patrimônio de bens simbólicos materiais e imateriais de um povo, se é o que nos identifica como seres humanos, pertencentes a um determinado grupo, se é o que nos define como nação, tradição, invenção, preservação e transformação da realidade...
Os bens culturais mais expressivos da criação brasileira e universal estão acessíveis a pequenas parcelas da população, seja em grupos resistentes de cultura popular (bumbas-meu-boi, congadas, reisados, catiras, guerreiros, folias, fandangos e etc) ou grupos de classe média produtores e consumidores de literatura, cinema, teatro, artes plásticas e etc. Esses diferentes grupos, responsáveis pela construção da identidade (e da contradição) cultural brasileira, estimulados pelo momento histórico (presidente operário, ministro tropicalista) precisam intensificar a construção de espaços dialógicos de interatividade e colaboração, trocando experiências, buscando alternativas sustentáveis de reconhecimento, fortalecimento e difusão das culturas populares brasileiras.
Em um mundo coisificado onde a globalização imposta pelo império capitalista, faz com que o "consumismo" seja parâmetro para medir a condição social dos indivíduos, necessitamos com urgência difundir as culturas portadoras de valores éticos humanistas e ecológicos necessários à construção do mundo mais justo e equilibrado que sonhamos.
Uma das características do capitalismo, do catolicismo de estado e do “new pentecostalismo” é a necessidade de destruição das culturas populares locais para que, em seu lugar, as novidades descartáveis do Deus-mercado sejam consagradas como símbolo de desenvolvimento e de vida nova.
Dado às características peculiares de produção e organização das culturas populares, (patrimônio imaterial) se faz necessário à revisão dos procedimentos (programas políticos) e das leis de incentivo para estas áreas que não sobrevivem dentro das relações tradicionais do mercado capitalista nem conseguem se ajustar às exigências burocráticas legais do estado.
Uma experiência exemplar, apesar de todas as dificuldades enfrentadas, esta em curso através do programa cultura viva, são os Pontos de Cultura que já se articulam por todo o país, com apoio, mas independentes do estado criando redes de interatividades fazendo pontes entre setores tradicionalmente apartados, inserindo no cenário nacional uma pauta nova, mas que veio pra ficar.
Nossa luta é contínua, mas nossas ações não devem perder de vista este combate. Para que sejamos eficientes os pontos de cultura precisam ser também consideradas sob o prisma da transversalidade, permeando várias áreas do conhecimento humano, articulando-se no âmbito das políticas públicas ás áreas de educação, saúde, meio ambiente, desenvolvimento sustentável, geração de trabalho e renda, comunicação e toda a pauta da inclusão sócio-culturall e da sustentabilidade no Brasil, no planeta.
O passado e o futuro também fazem parte do presente, em permanente estado de ebulição.
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