quarta-feira, 13 de junho de 2007

Diálogo intercultural e visões do mundo

O texto de referência é extremamente instigante.

Ao lê-lo, lembrei-me de algo que observei recentemente aqui nos EUA, onde moro: as obras de arte e de cultura que têm sua origem nas tradições culturais do Ocidente compõem os acervos dos Museus de Artes; os chamados conhecimentos tradicionais enconram seu lugar nos Museus de História Natural. É como se, como apontou José Jorge de Carvalho, os produtos das culturas tradicionais não se qualificassem como “arte” e sim como documento histórico de um tempo passado e superado.

Por outro lado, é interessante perceber como elementos oriundos das culturas tradicionais são incorporados e absorvidos por uma lógica de Mercado, o que se acentua ainda mais nessa era de globalização. Parece-me que os conhecimentos e culturas tradicionais servem como insumos que são apropriados pelos produtores dos países desenvolvidos, processados na máquina homogeneizante da indústria cultural e devolvidos como produtos para o consumode todos, inclusive dos próprios agentes dos conhecimentos tradicionais. No fundo, perpetua-se o regime colonial, no qual a periferia fornece material prima (simbólica, agora) para alimentar o sistema produtivo da metrópole.

Construir uma agenda e uma prática da diversidade cultural realmente democrática, na qual os detentores do conhecimento tenham de fato uma voz e um papel ativo na definição das políticas e ações, é um desafio. O estabelecimento de um efetivo diálogo intercultural seria um primero passo nessa direção. Entre os temas de discussão propostos, senti falta de algum item de caráter mais geral, que buscasse identificar, nas diferentes tradições culturais, a singularidade dos distintos sistemas de pensamento que elas exprimem. Visões do mundo que não deveriam ser vistas a partir das tradições ocidentais mas que poderiam propor uma leitura, nos seus próprios termos, destas tradições.

Uma última observação: fala-se muito, hoje em dia, da necessidade de promover o diálogo entre Ocidente e Oriente, o que acaba se traduzindo, de forma simplista, em promover as relações entre a Cristandade e o Islã. Trata-se de uma visão reducionista e de base dualista. Creio que o Brasil, e as Américas de um modo geral, podem contribuir para esse debate mundial ao apresentar outras tradições singulares, de fundo religioso ou não, e suas diversas combinações a arranjos particulares.

Paulo André Moraes de Lima

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